Minhas raízes mineiras

Serra do Paraíso - Campos Gerais/MG
Acervo pessoal
Também tenho absoluto orgulho de minhas raízes mineiras, nasci em Campos Gerais, cidadezinha de quase 30 mil habitantes, localizada no sul de MG, rodeada por serras e a principal, a Serra do Paraíso, cuja paisagem permanece dia após dia viva em minha memória. 

Minha mãe Dulcinéa, nasceu e se criou lá em Campos Gerais, era filha única e minha avó que eu tive o prazer de conviver até meus 21 anos era uma avó muito brava, mas muito boa e divertida, adorava contar umas piadas repletas de palavrões. Já meu avô eu não conheci, pois ele já era falecido quando nasci, mas minha mãe sempre fez questão de mantê-lo vivo em sua memória.

Durante minha infância, nas férias escolares íamos para Campos Gerais, ela preparava a casa para nos receber e como minha avó criava galinhas ela separava algumas para “ir para a panela” e eu morria de dó de saber que elas tinham iriam virar um delicioso ensopado, mas na hora do almoço eu nem lembrava da peninha que sentia da coitadinha.

Lembro-me que ela preparava um delicioso doce de leite feito no tacho de cobre no fogão à lenha, preparava doce de cidra e doce de abóbora com cravo e pedacinhos de canela. Todos os dias, bebíamos leite vindo direto da roça e tirado da vaca na mesma manhã, comíamos ovos caipiras com aquela gema bem laranjinha, comíamos broa de milho, pamonha...

Lembra que falei antes do meu tratamento de canal aos 12 anos? Certamente, os doces mineiros tiveram grande parcela de culpa nisto...

Ahhh!! 
Que saudade... era tudo muito delicioso!

Eu não via a hora de chegar os períodos de férias escolares para ir para a casa de minha avó, mas ela tinha um jeito muito peculiar de nos amar, ao mesmo tempo em que ela nos amava e sentia saudades, ela também amava a sua privacidade e a sua solidão. Passávamos no máximo uma semana e retornávamos para Guarulhos, esse era o tempo que ela dedicava a nos receber em sua casa, após esse tempo a convivência já se tornava difícil, pois ela era brava e não abria mão de sua solidão, que fazia muito bem a ela e era absolutamente necessária.

Eu não compreendia muito bem esse jeito de amar, achava muito estranho e até achava ruim, pois achava que ela não nos amava de verdade, o que estava completamente enganada. Com o passar dos anos e a maturidade, compreendi que todos nós temos nossa maneira peculiar de demonstrar amor: alguns demonstram por palavras, outros por gestos e atitudes, alguns demonstrando amor e outros demonstrando com ações, no caso de minha avó, ela separa uns dias de sua solidão para nos receber e quando esses dias se esgotavam, ela resgatava sua vida cotidiana.

E olha.... é preciso muito amor e muita coragem para ser assim!

Hoje eu admiro sua coragem de viver na solidão e em seu instinto de sobrevivência de forma só, por que no fundo ela não estava só, ela estava acompanhada de Deus, e ela era feliz assim.

Ser criada numa família mineira também foi uma grande honra na minha trajetória: as histórias de uma vida simples do interior, a força do estudo, a presença marcante da natureza, a música caipira, o valor de comer uma fruta no pé, a religiosidade dos campos mineiros, a força da simplicidade foram muito fortes e carrego esse exemplo até hoje.


A outra parte de mim vem dessas raízes e também me orgulho muito disso!
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