Por falar em gostar de ler desde criança...

Fonte da imagem: Google Images
"O livro é um brinquedo
feito com letras. Ler é brincar."
por Rubem Alves



No final do texto "Meu Baú e a coragem", disse que explicaria de onde veio a inspiração para escrever sobre a minha vida. Na verdade são duas inspirações e hoje vou falar sobre uma delas.

Já contei que gosto de ler desde criança e que esse "vício do bem" vem desde bem cedo já que fui alfabetizada aos 5 anos.
Na verdade, venho de um lar onde se respirava educação... Tive o privilégio de ser apresentada ao universo da leitura e aos livros pela minha mãe, uma professora e educadora por vocação.

Recordo-me que, morava num sobrado e no corredor da escada no segundo pavimento, havia uma estante de livros e enciclopédias (duas dessas enciclopédias eu guardo até hoje) que ficava ao lado da porta do banheiro e quando queria "fugir" de ajudar minha mãe na faxina de sábado, pegava um livro e me trancava rapidamente no banheiro...

Lá ficava muito tempo!
Na verdade alguns bons minutos que na minha cabeça infantil eram horas, me deliciando com as leituras e só saia quando minha mãe me ameaçava de "me dar uma surra", por não ajudá-la. Ela dizia que ficava abismada com o fato de eu só ter dor de barriga, aos sábados... rsrs

Só para fazer um adendo, desde criança eu e meu irmão fomos criados para ajudar minha mãe nos afazeres domésticos, para desenvolvermos o senso de colaboração e responsabilidade, lógico que não fazíamos nada de pesado, mas tínhamos que ser participativos. Nada que possa ser taxado hoje como "exploração do trabalho infantil", mas que foi fundamental na minha adolescência, quando a mãe morreu (mas sobre isso falarei no momento oportuno).

Voltando à fuga da faxina...

Ai, eu abria a porta do banheiro bem devagarinho com a maior carinha de sapeca ruiva que só eu sabia fazer, com meus olhos verdes bem esbugalhados e minhas bochechas bem vermelhinhas, com algum livro na mão e dizia:
- Estava com dor de barriga, mãe!

A minha mãe acabava perdendo a coragem de me bater.

Quando adolescente e que já não mais fugia da faxina, minha mãe me confidenciou que apesar de brava, ela sabia bem o motivo de "minha dor de barriga" e achava minha atitude muito engraçadinha e que ficava emocionada ao saber que estava escondida, lendo.

Hoje compreendo o quanto a leitura foi determinante na minha formação como ser humano, como me tornei um ser pensante e analítico, que passou a enxergar a vida através das letras e de todas as leituras agregadoras.

O gosto pela leitura me trouxe uma compreensão das necessidades da vida, especialmente da evolução humana e da vida moderna, determinou a escolha de minha profissão, a vocação profissional, o modo como encaro a cidadania, a fé, os desígnios do Universo e sua conspiração e os relacionamentos humanos.
Acredito que fui elaborando o roteiro da minha vida através da leitura e da formação educacional, muito presentes na minha educação formal e moral em minha casa.

Aproveitando minhas lembranças de infância, recordei-me da dna. Maria - uma vizinha que trabalhava no Jornal Folha Metropolitana de Guarulhos e que sempre nos presenteava com alguns "mimos". Lembro-me que ela nos presenteava com ingressos para o Playcenter, ela me levou à inauguração do Estádio Thomeuzão (não me recordo o ano, mas foi nos idos dos anos 80) lá em Guarulhos, e o show que marcou a inauguração do ginásio foi com o cantor Guilherme Arantes no auge do sucesso, acho que eu tinha uns 10 anos e tenho flashes dessa noite e recordo-me que curti muito. Seria essa a primeira vez que eu fui a um show.

Ela também sempre levava as minhas inscrições para os concursos culturais promovidos pelo jornal. E em 1986, num deles fui sorteada e contemplada com o livro Azulão da escritora Cristina Porto, um livro bem bacana que contava a saga de uma formiga chamada Ritinha, que resolve desbravar um lindo objeto azul que ficava em cima da mesa, qual foi a sua surpresa ao descobrir que tratava-se de um açucareiro cheio de açúcar.

Revirando meus guardados, achei a foto da premiação:


Fiquei muito grata e feliz pela premiação e pela oportunidade de conhecer o jornal, mas muito decepcionada ao perceber que o tal do Jota Gê era um boneco de papelão.... rsrs
Na doce e singela inocência de uma criança, o personagem era um "boneco" de verdade e que ao chegar ao jornal eu seria recepcionada e premiada por ele!
O que obviamente não ocorreu, pois o personagem não passava de uma figura inanimada.

Hoje vejo o quanto as crianças de minha época eram muito carentes da ludicidade e do estímulo à criatividade, tão importantes para um universo de imaginação  e docilidade de uma criança sonhadora. Mas enfim, valeu pelo passeio e pelo livro que li e reli várias vezes até doá-lo para a biblioteca da minha saudosa E.E.P.G. Comandante João Ribeiro de Barros, escola onde tive o orgulho de estudar parte da minha infância, localizada em Cumbica em Guarulhos.

Existe mais um grande motivo que me inspirou a contar a minha história, mas isso fica para a próxima postagem...

Abraço e até lá!
Simoni
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